POR QUE BRINCAR?


PORQUE BRINCAR?
Prof. Ms. Liana Cristina Pinto Tubelo1
Durante a caminhada evolutiva do Ser Humano, recebemos diversos nomes enquanto espécie:
Fomos chamados de HOMO FABERS, o homem que faz; HOMO HABILIS, homem que tem habilidades para construir ferramentas de subsistência; HOMO SAPIENS, o homem que sabe, que alcançou a sabedoria. Hoje, somos chamados de HOMO LUDENS, o homem que se diverte, o homem que busca a felicidade, nos diz um filósofo holandês chamado Johan Huizinga.
Enquanto ser humanos, já alcançamos tudo que poderíamos almejar na nossa tragetória histórica. Possuimos acesso a informação, a tecnologia, ao ter, ao querer, mas...nos preocupamos muito pouco com o SER.
Brincar faz parte da construção do SER, é processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança, refere Vygotsky.
É brincando que nossas crianças desenvolvem-se enquanto seres intelectuais, relacionais, propiciando o amadurecimento cognitivo, psicomotor, psico-emocional. No brincar elas interagem com o meio em que se encontram, seus iguais (as outras crianças), com os objetos e com elas mesmas.
É ao brincar que realmente apreendem e internalizam informações, comportamentos, construindo suas próprias interpretações sobre a vida e resolvendo internamente seus conflitos.
Em sua origem etimológica, a palavra CRIANÇA significa AÇÃO DE CRIAR. Desta forma, quando a criança recrea-se, ela verdadeiramente RECRIA seu próprio universo, internalizando o mundo social em que vive e da qual faz parte.
Quando a criança brinca, ela está trabalhando, pois este é seu trabalho, pelo qual exercita com dedicação. Quantas vezes nos pegamos dizendo:
_ Filho, agora não é hora de brincar, é hora de coisa séria! Ou...
_ Eu não estou brincando! Estou falando sério!
São expressões cotidianas que desvalorizam o brincar, e, nas entrelinhas referimos aos nossos pequenos que brincar é algo sem importância.
Não nos damos por conta que nós também brincamos, pois que É uma atividade inerente ao ser humano.
O brincar é um movimento exploratório. Desde o útero o bebê já esboça um brincar com seu corpinho em formação. Enquanto bebê, a boca é seu universo sensório, então ele quer sentir o mundo e brincar com ele, tomando consciência de seus gostos, cheiros e texturas. A criança, a partir dos 2 até aproximadamente os 3 anos reproduz tudo que seu ambiente social lhe proporciona de experiências, estágio que chamamos de período sensório-motor, fase da imitação ou imitação diferida, conforme Piaget.
É aquela fase em que a criança imita o pai no telefone, ou dirigindo o carro, a mamãe cozinhando ou lendo um livro. Também apelidamos de fase do papagaio.
Quando a criança começa a simbolizar, fase da brincadeira simbólica, construída gradativamente, propicia a evolução da linguagem falada. Assim, a linguagem influencia na evolução da brincadeira e a brincadeira auxilia na evolução da linguagem.
Ao brincar aos 5, 6 anos a criança vai adquirindo noções espaciais, equilíbrio, lateralidade, noção de corpo, motricidade fina e ampla, produz sons, desenvolve o cérebro para funções como a fala, a escrita e o andar organizado, auxiliando no seu desenvolvimento global.
Aos sete anos a criança já possui uma capacidade interrelacional muito desenvolvida, então, desenvolve-se o interesse em construção de regras sociais no brincar e no jogar.
Dos oito anos em diante, o interesse por jogos de competição cresce, é nessa época que os jogos denominados pedagógicos iniciam sua caminhada junto ao educando, recursos que são de importância fundamental na escola, uma vez que é o momento de intensa informação curricular. Assim sendo, o universo do brinquedo intervem na formalidade trazendo o prazer de aprender se divertindo, cooperando com os colegas e construindo novas regras de convivência.
A ausência da brincadeira na atividade infantil pode deixar sequelas, como a dificuldade em se relacionar e os medos, entre outros problemas mais graves.
Animais também brincam, contudo, somente o brincar do Homem é criativo e intelectual, promovendo o desenvolvimento de inúmeras habilidades, uma vez que mediante a atividade lúdica, desenvolvemos nossas capacidades estimulando o cérebro como um todo, bem como uma região do cérebro onde é estimulada a produção da ENDORFINA, chamado o hormônio da felicidade e do amor.
Especialistas revelam que nos tempos atuais, a família não encontra mais tempo para se reunir, os pais não encontram mais tempo para atender as necessidades de atenção de seus filhos. Estas mesmas pesquisas apontam que quantidade de tempo não traz tantos benefícios a saúde da criança quanto a QUALIDADE do tempo que se dedica aos seu interesses.
Desta forma, importante é realmente ESTAR com a criança e participar ativamente de seus interesses nem que seja por apenas 1 HORA. Pois vale mais uma hora de CUMPLICIDADE E PARTICIPAÇÃO, do que o dia inteiro dizendo:
_ Tá filho, já vou brincar!
_Daqui a pouco, agora não posso!
Ao brincar a criança desenvolve os quatro processos psicológicos, sendo eles a ATENÇÃO, A MEMÓRIA, A PERCEPÇÃO E O PENSAMENTO, elevando-os de elementares para superiores, uma vez que os aprimora.
Existem vários tipos e formas de brincar, conforme referem grandes teóricos como Piaget, Wallon, Brougére, entre outros tantos que dedicaram suas pesquisas ao desenvolvimento da criança e sua aprendizagem:
O brincar pode ser intelectual, pedagógico, terapêutico, socializador, simbólico, criativo, repetitivo, solitário, coletivo. O importante é que ele promova autoria e autonomia, que possibilite á criança sua própria resolução dos conflitos ou desafios, onde o adulto tem papel apenas de mediador e não de condutor do brincar.
As pesquisas na área das Ciências da Educação, Neurociências e Saúde vêm nos provando o quanto é importante e fundamental promover o espaço do brincar à criança, pois hoje já existe uma Lei federal, a Lei 11.104 de 2005, que traz a obrigatoriedade de todo hospital pediátrico possuir uma BRINQUEDOTECA, um espaço do brincar, e futuramente essa obrigatoriedade se estenderá às instituições educacionais.
Criança que brinca é criança saudável, inteligente e feliz.

NÓS ADULTOS SOMOS ENSINANTES APRENDIZES NO CONVÍVIVIO COM AS CRIANÇAS, NOSSOS APRENDIZES ENSINANTES (ALÍCIA FERNANDEZ- PSICOPEDAGOGA)

A INFÂNCIA DEVE SER PERCEBIDA NO SENTIDO DA EXPERIÊNCIA VIVIDA: EXPERIÊNCIA É AQUILO QUE NOS TRANSFORMA, “EXPERIÊNCIA É O QUE NOS PASSA, O QUE NOS ACONTECE, O QUE NOS TOCA. NÃO O QUE SE PASSA, O QUE ACONTECE, O QUE TOCA” (JORGE LARROSA- PEDAGOGO E FILÓSOFO ESPANHOL DA ATUALIDADE)
Brincar é coisa séria. Então, vamos brincar?
1 Mestre em Educação/PUCRS, Especialista em Ciências do Movimento Humano/FEEVALE, Educadora Física/UFRGS, Brinquedista/ABBri